segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Igreja que não existe mais!


“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2. 43-47

Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.

Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum)– os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente. Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo a disposição de todos.
 
Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz. Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.

O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. (MT 6.9) ” estava respondido, e diariamente.

Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.

Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.

Essa Igreja não existe mais!


Pastor Ariovaldo Ramos

EVANGÉLICOS SEM IGREJA


O crescimento numérico da igreja evangélica tem impressionado a todos. Entretanto, pesquisadores revelam que o grupo que mais tem crescido nos últimos anos é o dos “crentes sem igreja” – pessoas convertidas, mas que, decepcionadas com os rumos da pregação e da instituição, optaram por uma caminhada pessoal, vivida na intimidade, ou então pela formação de pequenos grupos nos lares, reeditando o cristianismo do primeiro século (ver quadro). P { margin: 0px; text-indent:30px; }
Após tanto crescimento – e alguns escândalos –, a igreja evangélica estará diante de uma crise? Ou estará passando por uma nova Reforma? O fato é que muitos andam descontentes com o que vêem e questionam o modelo de igreja refletido na mídia. Se este desapontamento não pode mais ser ocultado, cabe a pergunta: de que igreja os cristãos sentem falta?
A crise ética de alguns setores, abordada na edição de março de Enfoque, é um fator importante, mas não o único, que tem contribuído para um certo mal-estar no rebanho. Convertida há 12 anos, a enfermeira Carla Fontenelle dá um alerta: “Os pastores, encastelados em seus feudos, viraram celebridades intocáveis e inacessíveis, mas as ovelhinhas estão todas de orelhas em pé”.
Carla conta que já esteve à procura da igreja perfeita, mas concluiu que todas têm seus pontos fortes e pontos fracos: “Nas igrejas históricas, o estudo da Bíblia é minucioso, porém não desperta a sua fé. Aí, a gente vai para uma neopentecostal, fortalece a fé, aprende sobre batalha espiritual, enfrenta seus problemas com a Palavra, mas logo vem a pressão mercantilista e a gente percebe que nosso papel ali é o de sustentar um ministério caro”. Hoje, Carla sonha com uma igreja mais humana, onde as pessoas encontrem espaço para dividir suas fraquezas, sem medo de ficarem estigmatizadas. Ela sonha com igrejas que não abram somente no horário do culto, “onde se possa encontrar aconchego e silêncio para meditação”. A enfermeira lamenta também o distanciamento dos pastores que “ficaram muito ocupados para cuidar de pessoas”.

“Por que tanta violência, se nas grandes cidades tem tantos crentes?”, questiona a anglicana Gaynor Smith, que sente falta de uma igreja mais participativa na sociedadeImpasses como os descritos aqui acontecem mais do que se imagina. Sônia Bastos é uma assessora jurídica que freqüenta há 11 anos a mesma igreja e há seis participa de um ministério, mas conta que vem orando a Deus por uma nova denominação. “Confesso que já fui mais feliz onde eu estou. Fatos desagradáveis aconteceram envolvendo a liderança e comecei a refletir sobre a questão da árvore e seus frutos. Tenho orado, mas Deus me tem dito para esperar”.

Decepções com líderes à parte, Sônia sente falta de uma igreja alegre, “onde sinta prazer em ir e em levar as pessoas”. Para ela, a falta de comunhão entre os irmãos é um problema sério e acredita que cabe à liderança criar estes espaços de convivência.
Para casos como o de Sônia, a instrutora bíblica norte-americana Joyce Meyer tem um conselho: “Fique calma!”. Ela tem sido enfática em suas mensagens matutinas na televisão de que o cristão é que deve mudar sua atitude em relação a si mesmo e à igreja. “O mundo não vai mudar ao seu redor, as pessoas não vão mudar. Então, o melhor é você mudar! Não decolar junto, quando uma emoção quiser levantar vôo”, recomenda. Joyce gostaria de ver cristãos mais obedientes e submissos às autoridades e sugere que o livro de Watchman Nee Autoridade Espiritual volte a ser lido e estudado.

POR QUE AS PESSOAS TROCAM DE IGREJA

Maurício Zagari

Uma pesquisa organizada pelo instituto LifeWay Research, nos Estados Unidos, feita no final de 2006, mostrou as principais causas que levam uma pessoa a mudar de igreja. De um modo geral, 58% afirmaram que foram motivados a sair de suas antigas congregações e 42% disseram que a motivação estaria nas novas igrejas. Entre as dez principais causas de desagrado das congregações anteriores estão, em ordem:

1. ‘’A igreja não estava me ajudando a crescer espiritualmente’’ (28%)
2. ‘’Não me sentia engajado ou envolvido em tarefas significativas’’ (20%)
3. ‘’Os membros da igreja julgavam os irmãos’’ (18%)
4. ‘’O pastor não era um bom pregador’’ (16%)
5. ‘’Houve muitas mudanças’’ (16%)
6. ‘’Os membros da igreja eram hipócritas’’ (15%)
7. ‘’Deus não parecia estar atuando na igreja’’ (14%)
8. ‘’A liderança não encorajava o envolvimento’’ (14%)
9. ‘’O pastor julgava os outros’’ (14%)
10. ‘’O pastor parecia hipócrita’’ (13%)

Obs.: A soma não totaliza 100% pois algumas pessoas deram mais de uma justificativa para sua insatisfação.

VISÃO MERCADOLÓGICA

Na raiz da insatisfação, dois aspectos parecem sobressair quando o assunto é a pureza da mensagem bíblica, a chamada sã doutrina: o legalismo (excesso de leis e regras) e a ênfase nos bens materiais, que se convencionou chamar de “prosperidade”. Se o legalismo assusta e contribui para afastar pessoas da igreja, a ênfase na prosperidade é uma faca de dois gumes.

Se por um lado, a controvertida doutrina deu uma “espanada” no desânimo, combatendo a mente passiva dos crentes, por outro, é acusada de falsificar a mensagem evangélica, tornando-a muito parecida com as metas e ambições deste mundo. O pastor Osmar Ludovico tem seu diagnóstico: “Pregadores comunicativos, cultos bem produzidos, apoio de mídia, testemunho de empresários bem-sucedidos e de convertidos famosos… Tudo se faz para segurar os fiéis ariscos, que se tornaram consumidores exigentes, prontos para criticar e se mudar quando contrariados. A igreja se tornou um negócio, pastores se tornaram executivos, o ministério um gerenciamento”, ele afirma, temendo que esteja em curso um processo de “rendição a Mamom”, no qual a eficiência passa a ser medida não mais pela santidade e influência profética, mas pelas leis do mercado como a produtividade, performance, faturamento, profissionalismo, qualidade, nichos de consumidores e estratégias de marketing.

Eliane Cavalcanti formou a comunidade Ministério Resgatando Vidas com irmãos insatisfeitos e que se queixam de “politicagem” excessiva e do dinheiro no dia-a-dia das grandes denominações Para Ludovico, que foi buscar no estado da Paraíba, onde reside, um pouco da pureza perdida nos grandes centros, a igreja evangélica pode ter caído na armadilha do mercado: “Passamos a apresentar um Jesus Cristo atraente, prometemos a salvação no céu e a prosperidade na terra, sem precisar renunciar a nada. Palavras como sacrifício, pecado, arrependimento, negar-se a si mesmo, foram substituídas por decretar, determinar, conquistar, restituir, saquear”, ele assinala.

No entendimento da enfermeira Carla, a onda de inquietação do mundo está conseguindo penetrar no coração de muitos cristãos pela falta de uma blindagem maior contra a depressão e o medo. “Estamos sentindo mais falta de paz do que de prosperidade e poder”.

PARECIDA COM JESUS

O produtor cultural Sérgio de Carvalho faz parte do contingente de cristãos “sem igreja”. Hoje, diz sentir falta de uma igreja “parecida com Jesus” que, segundo ele, pode estar em qualquer lugar e não apenas no templo: “O amor e a linguagem de Deus não precisam de instituição para se expressar. Podem estar nas casas ou em praça pública. Estou afastado da igreja formal, mas sou cristão na vida diária e prezo o testemunho pessoal nos negócios e relacionamentos”, afirma.

Carvalho sonha com um cristianismo que acolha o viciado, o mendigo, a prostituta e todos os pobres e doentes da terra, como Jesus fazia. “Exemplos de igreja para mim são a Comunidade S8 dos anos 70, a Renascer dos anos 80, e os ministérios Metanóia e Bola de Neve na atualidade. Fora isso, é sepulcro caiado”. Radical, ele acredita que “o joio no meio do trigo” não deve ser cortado, “pois até Judas teve um papel didático”. E complementa: “O mundo está querendo ver expressões de amor, pois não sabe mais o que é isso. Está na hora de os discípulos de Cristo mostrarem ao mundo que Deus é amor antes de qualquer coisa”.

PESQUISA MOSTRA A FORÇA DOS PEQUENOS GRUPOS

O cristianismo nasceu nas casas, como igreja doméstica, e foi desta maneira que impactou o mundo e chegou até Roma, tornando-se, por fim, uma religião. Em livro lançado nos EUA, sem previsão para o Brasil, o Dr. Carl Hurton analisa os resultados de sua pesquisa de doutorado em crescimento de igrejas, feita com líderes cristãos. Ficou constatado que as igrejas que ainda usam o sistema “tradicional” têm crescimento pequeno em relação às igrejas com células e aos grupos caseiros e familiares. De acordo com Hurton, “os pequenos grupos nos lares estão conquistando o mundo”.

O pesquisador demonstra que existe muita base bíblica para este modelo. “A Bíblia nos diz que a Igreja Primitiva congregava em reuniões grandes e nos lares (At 2.46, Rm 16.5). Esta prática foi sendo sufocada, mas da década de 1980 para cá temos visto um renovado interesse mundial pela igreja caseira”, ele afirma.
A primeira que alcançou repercussão foi a de Yoido, na Coréia do Sul, pastoreada por Paul Yonggi Cho. Esta igreja, de pequeno grupo, virou a maior igreja do mundo (800 mil membros), o que parece uma contradição. O método de células e ministérios descentralizados, no entanto, foi mantido, e a igreja de Cho se reúne inteira apenas um dia na semana em diversos cultos.

O livro analisa também o G12 (grupos de discipulado de 12 pessoas) que tem alcançado grande sucesso, desde sua criação na Colômbia. Hurton acredita que o retorno dos pequenos grupos e igrejas nos lares está contribuindo para a expansão do cristianismo, mas que cada líder deve buscar o próprio método com a ajuda do Espírito Santo. Ele assegura que os pequenos grupos não são apenas “uma onda”, mas uma alternativa viável para os impasses do crescimento na igreja evangélica.

Com 42 anos e solteira, a servidora pública Eliane Cavalcanti optou por se desvincular do “esquemão” e formar uma comunidade com irmãos também insatisfeitos nas igrejas: “O calor humano, o amor e a consolação funcionam bem melhor num pequeno grupo”, ela avalia. O Ministério Resgatando Vidas, no bairro de Jacarepaguá, no Rio, reúne crentes nascidos em igrejas históricas, como Eliane, e oriundos de igrejas pentecostais, mas todos com uma queixa em comum: a presença excessiva da “politicagem” e do dinheiro no dia-a-dia das grandes denominações. “Dinheiro é necessário, mas ele também corrompe o homem. Quando tudo é decidido em comunidade, o dinheiro é usado de forma menos mercenária”, Eliane explica, admitindo que os problemas ficaram mais complexos, agora que o grupo atingiu 60 membros.

PASTORES ADMITEM PROBLEMAS E APONTAM SAÍDAS
“Quanto do nosso tempo estamos investindo na ovelha? Ou só investimos na estrutura e na burocracia?”, observa o pastor JR VargasO pastor JR Vargas, da Igreja Presbiteriana Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, acha relevante a queixa da enfermeira Carla sobre o “cuidado com as ovelhas”. Ele reconhece que este cuidado pastoral é indispensável para que as pessoas se sintam amadas. “A ovelha tem que estar protegida dessas doenças que estão inundando as famílias”, ele afirma. “Quanto do nosso tempo estamos investindo na ovelha? Ou só investimos na estrutura e na burocracia?” Numa autocrítica corajosa, JR declara: “Precisamos visar gente. Mas há pastores que não querem fazer isso para não parecerem fracos”. E indaga: “Deus nos chamou para sermos executivos ou para sermos pastores?”. JR acredita que a razão de ser da Igreja é a obra missionária e, por isso, seu olhar deve estar voltado para atender os que estão de fora. E quando uma igreja está envolvida em projetos de acolhimento e de evangelização, as chances de aparecerem problemas diminuem muito.

Quanto à inquietação dos que estão trocando as igrejas pelos pequenos grupos ou ficando em casa, o pastor batista Wander Gomes lamenta e entende que o cristão escolha o tipo de igreja que lhe convém, mas lembra que “toda igreja saudável vai crescer um dia e, conseqüentemente, vai passar a ter mais problemas, e o evangélico insatisfeito vai ter que ficar mudando sempre de uma para outra”. Sobre o desejo de que a igreja evangélica seja um lugar de reflexão e meditação, Gomes concorda: “Poderíamos, sim, ter menos barulho, menos agitação. É uma coisa histórica a igreja ser vista como lugar de reflexão, mas estamos no século 21, que é um século barulhento. Então, é uma questão cultural estarmos com decibéis muito elevados”, justifica. Ele lembra que existem igrejas com liturgia mais silenciosa e que a pessoa deve adaptar sua natureza ao tipo de culto que mais lhe agrada.

Quanto aos deslizes éticos, o pastor batista reconhece que as queixas procedem. “Infelizmente é verdade. São muitos escândalos envolvendo dinheiro e pessoas enxergando a igreja como fonte de enriquecimento. Mas também não resolve ficar dentro de casa ou ir para um grupo pequeno porque isso não é igreja”, sentencia, lembrando que grupos não podem fazer certas ações da igreja, como batismo, celebração da ceia. Gomes aproveita para fazer sua própria crítica ao atual modelo: “Reconheço que a igreja atual praticamente serve ao cliente. A idéia é que a pessoa chegue não para contribuir ou para servir ao Senhor, mas para ser servida. O crente de hoje quer uma igreja self-service, que sirva a ele. Ele não quer uma igreja para participar, lutar, desenvolver dons e talentos para crescimento do corpo. Esta visão utilitária tem prejudicado bastante”, ele conclui.

Para o bispo Paulo Lockmann, a omissão dos evangélicos na questão da violência urbana, aventada por Gaynor Smith, é procedente. “Existem iniciativas pontuais, mas de modo geral os evangélicos estão omissos, sim, e nosso empenho para combater esse problema está abaixo da expectativa”. Para Lockmann, o povo evangélico poderia ter uma ação mais ordenada, uma política de pressão permanente sobre os governos, como fazem os católicos. “Com certeza, surtiria mais efeito do que estas passeatas”, ele diz. Do ponto de vista estratégico, Lockmann aponta o caminho das pastorais carcerárias para uma ação dentro dos presídios, pois “tudo vem de lá”. O bispo sente falta de uma organização que reúna as principais lideranças evangélicas como a extinta AEVB, que “naufragou porque estava centrada numa figura carismática”.

ADOLESCENTES E CRIANÇAS

A preocupação maior dos pais que têm filhos adolescentes tem sido encontrar uma igreja onde existam atividades específicas – como esporte, grupos de discussão, acampamentos e música – voltadas para essa faixa etária. Shirlei e Ricardo Farias chegaram a trocar de igreja quando seus dois filhos atingiram a adolescência e não havia ministério específico para eles. Hoje, se alegram ao ver Rafael, de 16 anos, e Eduardo, agora com 21, plenamente integrados e satisfeitos, participando, inclusive, como músicos da orquestra e da banda.

Rafael afirma que o convívio comunitário na igreja tem contribuído muito para seu crescimento em disciplina e compromisso. Nos grupos de adolescentes, com uma média de 50 rapazes e moças, ele participa de palestras e debates sobre temas como “relacionamento com os pais”, “acesso à Internet”, “ficar ou namorar?” e freqüenta as atividades esportivas, mas sente falta de um culto para adolescentes dentro da rotina da igreja (mesmo que uma vez por mês), para o qual se possa convidar a turma do colégio. Deseja também uma atividade nas casas, no meio da semana, para que os adolescentes possam estar juntos e “se fortificar na Palavra”. Na opinião de Ricardo e Shirlei, que já participaram de ministério nesta área, o culto dominical não é suficiente, em alguns casos, para integrar o adolescente à igreja. Para eles, são necessárias outras atividades de integração e comunhão com o grupo.

A psicóloga Ana Clara, 40 anos, por sua vez, vive uma crise no relacionamento com a igreja e admite que seu compromisso com o casal de filhos é um motivo forte para mantê-la congregada. “Confesso que estou insatisfeita com minha igreja. Tenho percebido pouca profundidade na pregação, que é totalmente lida. Quero aprender Bíblia e não acho que isso deva acontecer somente no espaço da EBD. Mas como tenho filhos pequenos, não posso deixar de ir à igreja e de levá-los simplesmente porque não gosto disso ou daquilo. Eles são meu principal campo missionário; por eles eu vou e permaneço para que criem vínculos e aprendam o Evangelho, já que o ministério infantil de lá é ótimo”, ela diz.

Sérgio de Carvalho, produtor cultural, sente falta de uma igreja “parecida com Jesus” que, para ele, pode estar em qualquer lugar e não apenas no templo Ana Clara faz restrições à liturgia: “Me sinto em um happy hour e há pouca reverência”. Ela percebe seu crescimento espiritual “travado” e lamenta que sua igreja não a edifique. “Não sou a única a observar esses aspectos, mas ainda acredito que as coisas podem mudar e que eu posso ajudar nisso, embora me sinta desmotivada”. Apesar de tudo, a psicóloga, que cresceu em ambiente evangélico, reconhece que há tentativas de melhorar por parte da liderança, mas lança um questionamento em forma de crítica: “Será que é exigir demais estar numa igreja que tenha mais Bíblia na pregação e menos auto-ajuda?”.

O reverendo presbiteriano Éber Lenz César ressalta que assim como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela para a santificar, todos devem amar sua igreja e se santificar para que ela possa ser melhor a cada dia CARÁTER CRISTÃO

A cientista social Renata Éboli, convertida há 24 anos, enxerga a vida cristã como um caminho de aperfeiçoamento constante, e por isso não espera uma igreja “ideal”. Ela assinala que as fragilidades e limitações pessoais de cada crente são determinantes para a composição do Corpo de Cristo. “Mas sinto falta de uma igreja missionária e intercessora, de uma igreja que não só se alegre com os que se alegram, mas que sofra com os que sofrem”, confessa.

Obreira de uma missão na capital paulista, Renata gostaria de ver um maior envolvimento da igreja livre com o sofrimento da igreja perseguida, “pois a perseguição diz respeito a todos os cristãos e não é uma realidade apartada de nós”. Como outra preocupação, Renata cita o tema da ética. “Sinto falta também de uma igreja empenhada em formar o caráter de seus membros, ensinando a prática da ética cristã genuína”, conclui.

A anglicana Gaynor Smith sente falta de uma igreja mais participativa na sociedade e questiona: “Por que tanta violência, se nas grandes cidades tem tantos crentes? Por que a sociedade não é transformada?” Seu diagnóstico é que a igreja brasileira está acomodada, omissa, pouco misericordiosa e preocupada apenas com seus problemas.
Trabalhadora da área social, Gaynor sente falta de uma maior presença dos evangélicos no asfalto, nas comunidades faveladas e da solidariedade das igrejas locais com os deficientes: “Quantas igrejas têm rampas? Quantas têm tradução do sermão para a linguagem de sinais? E campanhas para adquirir cadeiras de rodas, quantas fazem? Mas qualquer campanha que traz benefício próprio atrai multidões”.

A Igreja de Cristo deve intervir onde puder, pensa Gaynor, inclusive na questão do aquecimento global: “Como evangélicos, devemos fazer a nossa parte em tudo, primeiro com intercessão e, depois, com uma ação integrada e transformadora. Mas se nas reuniões de oração das igrejas só aparecem cinco por cento dos membros, como sair do lugar?”, questiona.

Para o reverendo presbiteriano Éber Lenz César, por maiores que sejam as fraquezas e os defeitos que se possam encontrar, “a Igreja ainda é a noiva do Senhor e caminha ao encontro do Noivo buscando se aperfeiçoar sobre o tripé santificação, comunhão e missão”. Ele conclui citando a carta aos Efésios: “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela para a santificar. Assim como Ele amou, nós também devemos amar a nossa igreja e nos santificarmos para que ela possa ser melhor a cada dia”.

Joel Macedo



FONTE:  REVISTA ENFOQUE